O futebol feminino tem ganhado mais espaço nacionalmente, embora esteja ainda muito aquém dos holofotes vivido no mesmo esporte, mas praticado por homens. Se ainda há um longo caminho para percorrer em busca da igualdade, alguns passos dados podem ser comemorados. Alice é um deles.
Duas vezes por semana Alice Biffi Horostechi dos Santos, de 12 anos, apanha seu par de luvas, chuteiras calça e camiseta e vai para os treinos de futebol na Escolinha da Chape. Única menina entre os 240 alunos que fazem parte da escolinha, Alice enfrentou a adversidade em busca de um sonho. “Eu estou na Escolinha da Chape há dois anos. Quando entrei tinha mais meninas junto comigo e aos poucos elas foram desistindo, mas eu não. Quero ter uma carreira e me aposentar jogando bola.” Dudu, professor na Escolinha desde 2012, conta que aceitam a inscrição de meninas, mas que é difícil ter o número suficiente para formar uma turma apenas de meninas.
A diferença de gênero fica fora das quatro linhas. Segundo José Eduardo, o Zé, professor da turma em que a jovem está inserida, Alice é tratada sem nenhuma distinção. “Não tratamos ela de forma diferente dos de mais, pra nós é mais uma aluna da turma. A Alice faz a mesma atividade que os companheiros de equipe e se sai muito bem,” afirma o professor. Com olhar tranquilo e semblante tímido, a jovem segue na mesma linha que o professor. “No começo eles (meninos da turma) até me tratavam diferente, mas passou rápido e hoje não existe isso, fiz amizade com todos.”
Destemida, desafiadora e, principalmente, sonhadora. Ainda muito jovem, Alice tem não titubeia ao falar sobre seu futuro e desafia o cenário atual do mundo da bola. “Quero começar na Chape, mas depois jogar no Real Madrid. Eu gostava do Cristiano Ronaldo, quando ele jogava lá, por isso quero jogar no time feminino deles”, revelou.
Inspiração, dedicação e apoio da família
Alice conta que desde muito pequena sempre gostou de vários esportes, tendo o futebol como preferido. Com apenas nove anos entrou na sua primeira escolinha, a do Grêmio, mas depois de um mudou para a da Chape. Torcedora assídua do Verdão, encontrou em um atleta o desejo pela posição de goleira. “Eu vou em todos os jogos com o meu pai. Eu era zagueira, mas gostava muito do Danilo, depois da tragédia decidi que quero ser goleira para homenagear ele”, disse.
Além da inspiração em uma grande figura na história da Chape, Alice conta com o apoio da família para ir em busca dos seus sonhos. O pai, Ademir Cezar dos Santos, em momento algum temeu pela filha treinar com meninos. Já a mãe, dona Rosangela Córdova dos Santos, teve receio. “Minha mãe achava que eu ia me machucar por jogar com os meninos, mas depois viu que não, é ela quem me traz nos treinos.”
A bola se tornou a fiel companheira e a única brincadeira nos tempos vagos. Diferente das duas irmãs mais velhas, Bruna e Blenda, 15 anos, que preferem passar o tempo vendo séries. Mas a dedicação da jovem Alice pelo futebol contagia a família. “Minhas irmãs não gostam de futebol, mas as vezes eu chamo elas para me ajudarem a treinar em casa e elas ajudam.”
Por Rafael Bressan